terça-feira, 13 de setembro de 2011

Análise de estilo: Renault Duster


renault duster analise estilo 1 Análise de estilo: Renault Duster
O Duster está chegando ao mercado brasileiro e não terá uma vida fácil. O “utilitário esportivo” da Renault (na verdade é um crossover) chega com a dura missão de ser o verdadeiro rival do Ford EcoSport, um jipinho que apesar de ter sido lançado em 2003, ainda pode ser considerado o “namoradinho do Brasil”.
Não é para menos. A Ford, quando o lançou, fez uma aposta arriscada mas que deu muito certo. Com pesquisas a mão, traduziu os anseios do consumidor. Jipões, importados, eram os sonhos da maioria, mas quase nunca este sonho de concretizava, devido ao custo de tê-los e mantê-los, já que eram maiores, pesados e consumiam mais combustíveis. Junte-se a isso, o fato revelado nas pesquisas, de que os motoristas gostariam de dirigir mais alto.
Este último fato foi também tratado pela concorrência. Na mesma época é lançado o VW Fox, com sua posição de dirigir mais alta, e a Chevrolet Meriva, uma minivan que por si só já é mais alta. Coube a Ford, porém, juntar os dois desejos. Surge então o EcoSport, um carro feito na plataforma do Fiesta que tinha sido lançado aqui um anos antes.
Ele trouxe para o mercado uma posição de dirigir mais alta e uma aparência de um jipe, com linhas retas, caixas de rodas mais salientes e o estepe na traseira, seu maior charme. O Duster repete o pioneiro EcoSport em quase tudo, excetuando-se aqui o estepe preso a tampa do porta-malas.
Olhando o Duster, podemos já concluir que ele não “nega a raça”. Assim como seus irmãos de plataforma, a primeira impressão passada é que ele é maior que os concorrentes. Logan e Sandero se valem desta prerrogativa e são muito bem aceitos. E assim como eles, se vale de soluções simples para ser um automóvelacessível.
renault duster analise estilo 2 Análise de estilo: Renault Duster
Olhando para a dianteira, temos um conjunto simples, mas que já mostra o que veremos em todo o resto do carro, que é a impressão de um carro robusto e grande. Se vários carros tentam passar pelas suas formas as vezes três impressões distintas, como luxo, esportividade ou força, o Duster se mostra focado apenas em mostrar robustez.
E vai longe nesta sua impressão. E para isso se vale de vários recursos, como orientações retas em suas linhas, nervuras e peças abauladas, visando ocupar toda a área visual possível. Há até mesmo alguns passeios sobre a linha de veículos militares.
Sua frente é composta por faróis de estilo simples, quase simples retângulos. Duplos refletores sobrepostos pela área destinados a luz de direção, em formato de seta direcionada para as extremidades do carro, trazendo já aqui uma impressão de largura. É um recurso simples, que na essência é a brincadeira onde duas retas de igual comprimento com setas apontando para fora em uma, para dentro em outra. Temos a clara ilusão que a reta com setas apontando para fora é maior que a outra.
A grade, com desenho exclusivo para o modelo feito no Brasil, É simples, três aletas com o losango da marca ao meio. Apesar de simples, foi tentado passar alguma fantasia a ela, com ligeiras inclinações nas extremidades. Estas inclinações tentam dar alguma profundidade a ela e combiná-la ao vinco em formato de “U” do capô.
Mas aqui nada deu muito certo. A grade, por vezes, passa a impressão que está “torta”, algo que cedeu. E a combinação com o vinco não foi feliz por causa discrição do último. A grade do Duster feito pela Dacia pode até não ser nenhum exemplo de beleza, mas tem algum requinte e é melhor inserida no contexto do carro.
renault duster analise estilo 3 Análise de estilo: Renault Duster
Seu para-choque, também de forma simples e reta, tem uma simulação de quebra mato e uma grade inferior com uma grade no estilo mais simples possível. Retangular. Aqui a inspiração veio de veículos militares. Cabe aqui também mostrar que o para choque tem um ângulo de inclinação bastante agudo em relação ao solo, excelente para uso fora de estrada, e melhor ainda para enfrentarmos valetas do dia-a-dia, já que ele será quase impossível de ser afetado com este grande ângulo de ataque.
Ainda na dianteira, ele se vale do mesmo recurso do EcoSport para parecer mais largo. As bordas dos para-lamas têm leves dobras para combinar o ângulo de 90° com o capô, parecendo mais largo. Mas a dianteira tem a aparência de larga graças, principalmente, a combinação de elementos cada vez mais largos em direção ao chão.
Acompanhe: Primeiro temos a linha do discreto vinco no capô, segundo pela linha formada pelo conjunto de faróis e grade, terceiro elemento formado pela linha formada pelos vincos ao meio do para-lama e continuado no para-choque e por fim, a linha do limite do carro mesmo. Esta escala de orientações cada vez mais espaçadas é o principal elemento que trás a sensação de um carro largo.
Já olhando para lateral, temos mais elementos que evocam robustez. Janelas não têm as colunas pintadas em preto para não integrá-las, para que parecem propositalmente pequenas, talvez até para nos lembrarmos de um blindado. Caixas de rodas anabolizadas também. Tudo nele é pensado para dar a clara impressão de força. Até mesmo detalhes como a um tanto abrutalhada barra no teto.
Temos, visualmente olhando a lateral do Duster, uma grande lembrança dos utilitários da Nissan. Pathfinder (os mais antigos) e XTerra são claramente “homenageados” no Duster. Se nos carros pequenos podemos ver que a Renault está influenciando a Nissan, aqui, ao que parece, temos o caminho inverso.
renault duster analise estilo 5 Análise de estilo: Renault Duster
Como um projeto de baixo custo que é, podemos notar na lateral que o Duster teve limitações e adaptações. Ao que parece, sua principal adaptação é a porta dianteira do Sandero. Notem que o vinco é o mesmo, em forma de parábola côncava. Talvez até o para-brisa seja o mesmo do Sandero, que neste caso é o mesmo do Logan, única peças externa, além dos retrovisores, que os irmãos dividem.
A porta do Sandero exigiu algumas adaptações no desenho, como o vinco que emoldura o espelho retrovisor que chega ao para-lama. Este é o maior prejudicado pelo uso desta porta, que tem como objetivo ganhar em economia de escala. Notem que a abertura da caixa de roda dianteira morre de forma abrupta junto a porta, criando até certo aspecto de estar amassada.
O vinco até tenta combinar com o vinco convexo da porta dianteira, mas devido a diferença de profundidade (o da caixa de roda é para fora ao passo que o vinco conexo é para dentro), isso não acontece. Este pênalti no desenho (em minha opinião o maior de todo o desenho) é evidenciado ainda quando olhamos o arco da caixa de roda do eixo traseiro, que é absolutamente na porta traseira que não é a mesma do Sandero. É… projeto de baixo custo tem destas coisas.
A terceira janela, pequena e de corte ascendente, mostra uma coluna traseira larga, que inevitavelmente passa, apesar de prejudicar a visibilidade, impressão de robustez. Lembre-se que o Golf, geração após geração, se vale deste recurso, inclusive sendo apontado em pesquisas da VW, como uma das características dele.
Por fim, a lateral na versão 4×4 se mostra bem mais interessante que a 4×2 devido ao uso de plástico sem pintura em toda linha inferior do Duster. Devido a sua largura, ele acabou recebendo uma espécie de estribo. Este estribo faz a ligação entre as caixas de rodas destacadas e as integra ao desenho.

renault duster analise estilo 6 Análise de estilo: Renault DusterE este recurso é muito bem vindo a este tipo de carro, que mantém protegida a carroceria de cascalhos. Notem que o EcoSport tem uma curva lateral que o expõe muito. Ainda no estribo, na versão 4×4 que vem sem pintura nesta área, ele combina em acabamento com as barras no teto. Na versão 4×2, que tem o estribo na cor da carroceria isto não acontece e o deixa menos interessante.
Chegado à traseira, podemos destacar duas coisas. A transição da lateral para a tampa, com uma escala de ângulos que não é usual, e as saliências acompanhando as lanternas.
O primeiro item tem como objetivo também transpassar impressão de largura, seguindo o mesmo conceito do conjunto capô/para-lamas.
Na dianteira o capô é envolvido pelos para-lamas para evidenciar a diferença de tamanho. Para termos idéia de como este conceito funciona, é como se olharmos para um prato de comida vazio. Olhamos ele e temos uma ideia de tamanho. Se colocarmos um prato se sobremesa encima de um prato de comida, fica evidenciado que o prato de sobremesa é menor e criamos referência, temos uma escala de tamanho e não raro achamos que o prato de comida é maior do que se ele estivesse sozinho.
Na traseira, o conceito é o mesmo e aqui ampliado. Para evidenciar uma tampa traseira (propositalmente) aquém da largura, há um ângulo de transição entre a lateral e a traseira. Observem que é uma espécie de meio caminho entre o ângulo reto que seria formado pela junção da traseira e lateral. É este ângulo que devido a variação de luz que forma uma moldura e evidencia o tamanho da tampa.
As saliências que acompanham as lanternas traseiras passam a ideia de robustez também. Lembra de certa forma a saliência que existia na tampa traseira de Nissan Xterra. Thomas Semple, do estúdio de Design que a Nissan tem na Califórnia, quando desenhou a Xterra teve como inspiração uma caixa de ferramentas, algo que é rústico e tem que ser forte. No Duster a ideia de caixa de ferramentas pode não ter surgido, mas a sugestão de força sim.
renault duster analise estilo 4 Análise de estilo: Renault Duster
O vidro traseiro se vale do meio termo entre ser grande (podendo passar a ideia de fragilidade) e ter boa visibilidade ou ser pequeno e atrapalhar nas manobras. O meio termo é conseguido graças às extremidades inferiores inclinadas.
O Duster repete a confusão de emblemas dos irmãos. Tanto que o emblema que identifica a versão 4×4 teve que ser inserida de forma inclinada entre o vidro e a lanterna. O nome Duster na barra cromada acima da placa é grande e apropriado para a proposta do carro. Se for lançado um Duster automático, a Renault vai ter um problema. Eu não sei mais onde vai achar lugar para mais um emblema.
O interior é bem parecido com a dupla Logan/Sandero, não tendo muito a ser acrescentado. De simplicidade aparente, é um painel simétrico para poder receber o volante dos dois lados. Cabe aqui evidenciar a grande melhora do acabamento e ergonomia do Duster brasileiro para o romeno. O painel ganhou acabamento “black piano”, espaço para aparelho de som duplo DIN e comandos dos vidros elétricos foram para as portas.
O mercado mostrou que apostas ousadas, quando dão certo, viram trunfos difíceis de serem superados, às vezes por até uma geração. E agora, prestes a ganhar uma geração nova (prevista para o ano que vem), o EcoSport ganha um concorrente real, um carro feito a sua imagem e semelhança, um carro com um estilo de um fora de estrada, feito a partir da plataforma de um carro pequeno (no caso o Logan). O Duster tem armas sim para fazer sucesso, nos resta esperar para ver o quanto ele vai incomodar o líder.

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