segunda-feira, 25 de julho de 2011

Direto do Japão: Avaliação Mazda Demio (Mazda2)

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“…Era uma vez uma equipe de designers que recebeu a árdua missão vinda do andar de cima da empresa de mudar totalmente o conceito de um carro que foi o pioneiro em aliar a conveniência e o espaço das minivans e peruas com a economia e a facilidade de dirigir de um veículo compacto.
Suas novas diretrizes são o design arrojado e o prazer ao dirigir em primeiro lugar, deixando de lado a versatilidade que sempre o caracterizou. Para complicar, a área da engenharia do novo modelo recebeu o difícil trabalho de deixá-lo 100 kg mais leve, ajudando no consumo e na dirigibilidade.
Ele já vendia bem, mas a nova geração deveria vender mais ainda, contrariando a preferência dos consumidores da categoria, que apreciam muito mais a praticidade neste tipo de veículo. Mas os profissionais foram competentes e o produto saiu melhor que a encomenda, sendo aceito até em um mercado que há pouco tempo atrás era considerado um ultraje ter um carro pequeno…”
A hipotética historinha acima poderia até ter sido verdade, mas as transformações ocorreram de fato no Demio, o (agora) hatchback compacto da Mazda. Lançado no Japão em 1996 sobre a base do antigo Revue (121 sedan), o modelo sempre vendeu bem com seu jeito de minivan e perua – na verdade era uma miniperua (tanto que sua versão Ford era vendida no arquipélago com o nome de Festiva Mini Wagon).
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Tinha linhas simples, agradáveis e sendo um pouco mais alto que um hatch daquele tempo (pode ser considerado o precursor dos compactos com jeito de minivan), tinha bom espaço para passageiros e bagagens, oferecendo algo a mais que seus concorrentes da época (Toyota Starlet, Nissan March, Honda Logo, entre outros). Em 2002 foi lançada a 2ª geração, com o mesmo conceito, linhas limpas e evoluídas, mais confortável e espaçoso e de bem melhor acabamento – Também foi criado o Verissa, um Demio com estilo diferenciado e mais luxuoso.
Entretanto, o tempo foi passando e seus rivais evoluíram (o convencional Logo virou o inovador Fit) ou foram criadas variantes mais espaçosas destes modelos, abalando um pouco as vendas do Demio – porém ele sempre figurava entre os mais vendidos do segmento. Um sinal de que estava chegando a hora de mudar, ou melhor, revolucionar novamente.
Espelhado no sucesso do Suzuki Swift, um carro que prioriza o design e o prazer na condução mas deixa a praticidade e o espaço interno em último lugar, a 3ª geração do Mazda foi apresentada em 2007 deixando muitos dos seus consumidores admirados com o desenho da carroceria – foi o segundo modelo a estrear a nova filosofia de estilo da marca (depois do MPV) e é talvez um dos modelos mais bonitos da categoria, junto com o Swift.
Já outros fiéis do modelo torceram o nariz pela perda da sua melhor característica – para estes ainda existe o Verissa, só que ele é bem mais caro. Conhecedor das duas gerações anteriores e um dos simpatizantes do modelo, pude perceber muito bem o que o carro ganhou e perdeu com as mudanças, pois fiquei um fim de semana com o compacto da Mazda. E como já disse anteriormente, a praticidade e o espaço foram os itens mais sacrificados deste novo modelo, só que desta vez eu senti na pele o seu efeito – pois uso muito o porta-malas.
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Tive que esquecer que o modelo antigo era muito mais fácil de carregar e acomodar objetos, pois o novo ficou com um porta-malas bem menor, com a base da abertura alta demais e com um banco traseiro que só rebate o encosto (o anterior além de fazer isso também levantava o assento, deixandoo assoalho plano e permitindo acomodar melhor uma caixa grande por exemplo).
Apaguei da memória também que os passageiros de trás ficavam mais confortáveis com os seus bancos reclináveis e deslizantes e agora ele não tem mais esses “luxos”, além disso, devido ao seu novo formato da carroceria eles ficaram um pouco mais apertados para a cabeça e ombros – porém ainda assim é melhor que o irmão maior Axela.
E devido a menor área endraçada, a visibilidade traseira ficou bastante reduzida. Na frente, a base da coluna “A” é um grande ponto-cego (outros modelos tem uma pequena janela para tentar amenizar o problema). Entretanto, a maior decepção foi com o painel de instrumentos, não por causa de seu acabamento, que apesar de usar plásticos duros mas de qualidade, tem encaixes precisos e sem ruidos. O que mais desagrada nele é o seu desenho, que ficou muito simplificado, contrastando com o arrojo de suas linhas externas.
Tudo bem que são utilizados recursos para melhorar o visual como detalhes prata-escurecidos nas saídas de ventilação laterais, volante, ao redor do câmbio (cujo acionamento foi a única coisa que ganhou das minivans, subindo de posição para o painel) e nos puxadores das portas dianteiras – estes são opcionais junto com a pequena parte em tecido.
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Porém há detalhes que lembram carros chineses, como a parte que abriga os difusores de ar centrais, o som/GPS e comandos de ventilação – repare que o conjunto parece a cara do Mickey, como o quadro de instrumentos do Lifan 320.
Foram eliminados vários porta-objetos e o porta-luvas ficou pequeno (com um útil vão para colocar revistas), até o porta-copos duplo foi suprimido, deixando o motorista na disputa com o carona pelo único espaço para colocar latas (mas há um local para colocar garrafas nas portas dianteiras), onde também fica um console de tamanho razoável para colocar tralhas. Neste ponto o antigo Demio deixou saudades…
Entretanto, nem tudo é ruim, a posição de dirigir é muito boa (com regulagem de altura e distância do volante), os bancos dianteiros seguram bem o corpo e seu revestimento é caprichado. Os instrumentos são simples (senti a falta do medidor de consumo) mas possuem uma iluminação eficiente.
Se por um lado o Demio perdeu toda a praticidade que ele tinha, por outro lado a renovação visual e a “dieta” fizeram um bem danado ao desempenho e ao comportamento dinâmico do carro. Os 100 kg perdidos se revelam nas respostas rápidas do motor 1.3 de 91 cv (que faz de 0 a 100 km/h em 11 segundos e atinge 175 km/h de velocidade máx.) ajudado pela muito boa transmissão automática de 4 marchas – que é usada apenas na versão básica.
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Pode parecer antiga, mas é bem escalonada e faz milagres para que o Mazda provavelmente ande melhor do que quando equipado com CVT – escrevo isso porque o Axela 1.5 com este câmbio (o mesmo usado no Demio) não tem o mesmo vigor apesar de ter um motor mais forte – e maior peso, claro.
Só que tanta vivacidade tem seu preço, e neste caso o valor a se pagar é um consumo alto (para os padrões dos compactos daqui) de 10,2 km/l, muito longe dos 21 km/l anunciados pela marca… Confesso que tenho minha parcela de culpa neste número, pois durante o período que ele esteve comigo não fui um motorista assim tão “econômico”…
Mas depois vi no fórum dos proprietários do Demio que muitos reclamam consumo do modelo com o câmbio automático tradicional, pois eles fazem médias de 11 a 13 km/l, enquanto os carros que possuem CVT fazem de 16 a 19 km/l.
Outro ponto alto (e mais um benefício do regime) é o seu comportamento dinâmico. Herdeiro da plataforma do Ford Fiesta europeu de 5ª geração, o Demio é um dos compactos mais divertidos que eu dirigi até hoje. Dotado de suspensões comuns a todos os seus rivais – McPherson na frente e eixo de torção atrás, o Mazda tem a vantagem de ter um acerto mais refinado, como no Suzuki Swift(mas neste falta motor na versão 1.2).
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É firme sem ser desconfortável e tem uma direção de reações rápidas, com freios adequados a sua proposta. Muito diferente do modelo antigo, que era literalmente “pesado” para dirigir, a Mazda conseguiu deixar o Demio um carrinho viciante e prazeroso – mesmo com um pequeno motor, ele é daquele tipo de carro que te deixa com um sorriso no canto da boca enquanto dirige (o 1.5 de 111 cv é melhor ainda).
O único problema é que os pneus do modelo avaliado (Yokohama Aspec) possuem uma forte tendência para aquaplanar, necessitando atenção redobrada no veículo em dias de chuva. O “dilúvio” que caiu nos dias que fiquei com o carro comprovam o fato, pois os pneus perdiam a aderência facilmente nas poças mais volumosas.
É equipado de série com itens de segurança que são de praxe nos compactos japoneses ou seja, duplo air-bag, ABS com EBD e brake assist e ISOFIX.
Como a maioria dos rivais, o Demio deixa as bolsas laterais e o cinto traseiro central de 3 pontos (este alguns concorrentes nem possui) como opcionais neste quesito. Apesar disso, o Mazda ganhou 5/6 estrelas no JNCAP(motorista/passageiro), uma nota muito boa e que fica na média da categoria.
O modelo avaliado (13 C) vem apenas com o básico (para o japonês), ar condicionado (o controle automático é opcional), direção com assistência elétrica e duo elétrico. Acionamento automático dos faróis e limpador do para-brisa, luzes de neblina e xenon, retrovisores com regulagem elétrica, chave presencial com imobilizador, som, rodas de liga, vidros traseiros escurecidos e portas com revestimento parcial em tecido e aplique prata são pagos à parte.
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No fim do mês passado o compacto recebeu uma leve atualização na frente, traseira e também recebeu pequenas alterações no acabamento interno (o carro mostrado nesta avaliação é o anterior a estas mudanças). Mas a maior novidade foi a introdução do novo motor Skyactiv-G, que promete economia de combustível comparável ao modelos híbridos. Como usa a alta taxa de compressão de 14.0, favorece o torque em médias e baixas rotações e permite que o Demio atinja um consumo médio de 30 km/l – número de fábrica.
Conta também com apêndices aerodinâmicos no assoalho e sistema start-stop para ajudar no consumo e reduzur a emissão de poluentes. Se pensava que este motor substituiria toda a gama 1.3 do carro, mas é apenas mais uma versão do modelo (13-SKYACTIV) e a mais cara com esta cilindrada.
As outras variações com os convencionais motores 1.3 e 1.5 continuam em linha e as mais baratas até sofreram uma redução de preço de 50.000 ienes (990 reais) – porém o Brake assist não existe mais nelas… Seus preços variam entre ¥ 1.149.000 (R$ 22.710,00) e ¥ 1.621.750 (R$ 32.060,00). Se não é o mais barato da categoria, pelo menos oferece uma atraente relação custo/desempenho.
O Demio é o melhor retrato da revolução que os carros da Mazda vem sofrendo nos últimos anos, se antes os seus modelos eram vistos como defasados e de baixo valor de revenda (o próprio Demio é um exemplo disso, quem comprou o modelo em 1999 e o revendeu em 2003 perdeu no mínimo 80% do valor do veículo), atualmente os veículos da empresa são referência no quesito prazer ao dirigir e beleza exterior – pelo menos entre as marcas japonesas.
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Mostra também que um passe arriscado (como tirar todas as suas conhecidas virtudes e substituir por outras que os mercados estrangeiros apreciam) pode se transformar em um grande acerto, permitindo o estiloso hatchback a ingressar no superconcorrido mercado americano. Diante disto, só resta aos brasileiros aguardar até 2013 para que os primeiros Demio (ou Mazda 2)mexicanos desembarquem no território tupiniquim.
Usufruindo dos benefícios do acordo BrasilMéxico, a Mazda poderá trazer seus carros com um preço mais camarada que os concorrentes nipônicos no mercado brasileiro – a exemplo da Nissan. Além disso, é a chance de empresa limpar a má imagem do passado, quando deixou muitos proprietários na mão ao encerrar as operações no país no fim dos anos 90.Com qualidade e belos produtos, a Mazda tem tudo para dar certo no Brasil, mas falta um detalhe importante: Conquistar (ou melhor, reconquistar) a confiança do consumidor.
Algo que Toyota, Honda e Nissan o fizeram há muito tempo – já preparando o terreno pois ambas as marcas terão o seu representante no segmento dos compactos. E para acirrar mais ainda a disputa tem a concorrência chinesa e coreana que não está para brincadeiras… Além dos tradicionais competidores nacionais. É… Parece que não será nada fácil a missão que a casa de Hiroshima terá pela frente na Terra Brasilis… Essa batalha promete!
Ficha técnica – Mazda Demio 13 C
Quilometragem do carro avaliado: 1.728 km
Dimensões e capacidades:
carroceria: Hatchback, 5 portas, 5 passageiros
comprimento/largura/altura: 3,88/1,69/1,47m (interno: 1,81/1,42/1,22m)
entre-eixos: 2,49m
peso: 990 kg (relação peso/potência: 10,87 kg/cv)
tanque de combustível: 41 litros, gasolina comum
velocidade máxima: 175 km/h
aceleração de 0 a 100 km/h: 11 seg.
consumo médio: 21,0 km/l (norma 10-15 mode)
Motor:
tipo ZJ-VE, 1.348cm³, dianteiro, transversal, 4 cilindros, DOHC 16V com VVT
diâmetro e curso: 74,0 x 78,4 mm
taxa de compressão: 10.0
potência: 91 cv a 6.000 rpm (potência específica: 67,5 cv/litro)
torque: 12,6 kgfm a 3.500 rpm
Transmissão:
automática de 4 marchas, tração dianteira.
relações de marcha: frente: 1ª: 2.816, 2ª: 1.553, 3ª: 1.000, 4ª: 0.695/ ré: 2.279/ final: 3.904
rotação do motor a 100 km/h: 2.500 rpm
Direção:
tipo pinhão e cremalheira com assistência elétrica, 4,7m de diâmetro mínimo de curvaSuspensões:
Mc Pherson (D), eixo de torção (T)
Freios:
disco ventilado (D), tambor (T) com ABS, EBD e Brake assist
Rodas e pneus:
aço estampado 14x6J com calotas, 175/65R14 82S
Tabela de preços:
13 C: ¥ 1.149.000 (R$ 22.710,00) – 5MT, 4AT (4WD/4AT: ¥ 1.372.250 ou R$ 27.120,00)
*modelo avaliado (2010): ¥ 1.199.000 (R$ 23.800,00)
13 C-V: ¥ 1.290.000 (R$ 25.490,00) – CVT
13-SKYACTIVE: ¥ 1.400.000 (R$ 27.670,00) – CVT
15 C: ¥ 1.335.000 (R$ 26.380,00) – 5MT, CVT
SPORT: ¥ 1.621.750 (R$ 32.060,00) – 5MT, CVT
Notas no crash test JNCAP – proteção para motorista/passageiro: 5/6 estrelas (de 6 possíveis)

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